Curiosamente, um mundo loucamente imperfeito exige-nos perfeição o tempo todo. De todos nós, de fato, mas, quando se trata das mulheres, as exigências são ainda mais exorbitantes e cruéis. O mundo espera de nós o que, talvez, sequer saibamos se é possível – e que muito provavelmente não é.
O mundo espera que sejamos bonitas, acima de tudo. Lindas, se possível. Bem cuidadas, magras, bem feitas, gostosas e sensuais. E tenta convencer-nos que não somos bonitas se não vamos ao salão de beleza semanalmente.
Uma mulher “perfeita” para o mundo atual tem que trabalhar o dia inteiro – porque precisa ser independente – estudar – porque precisa ser culta – fazer dieta, ir ao ginásio e manter os cabelos com um brilho espetacular. Ir à manicure, sorrir para a sogra e, depois de tudo isso, ter disposição para fazer um se xo memorável a qualquer hora, para que o mundo – e, em alguns casos, excepcionalmente o seu companheiro – a considere uma mulher que “vale a pena”.
E ainda é preciso encontrar tempo pra rezar pra não ser trocada por outra – porque, como já ouvi incontáveis vezes: homens disponíveis estão mesmo difíceis de encontrar. E depois de nos aterrorizar com toda essa história de que precisamos agradar aos nossos homens, muito mais, até mesmo, do que sermos nós mesmas, ele nos cobra lucidez. Segurança. Serenidade.
A verdade é que o mundo nos cobra equilíbrio quando tudo o que ele faz é nos desequilibrar. Nos cobra segurança quando tudo converge para que acreditemos que não somos nada sem um homem ao lado, nos cobra união enquanto, culturalmente, nos lança umas contra as outras, fazendo-nos uma cruel lavagem cerebral que tenta nos convencer de que somos desunidas e competitivas.
E os homens das nossas vidas – pais, companheiros, amigos – embora, muitas vezes, cheios de boas intenções, acabam por nos atribuir uma responsabilidade que talvez sejamos incapazes de assumir: a de sermos boas o suficiente o tempo todo.
De não mexer no telemóvel dele. De deixá-lo ver futebol em paz. De não sentir ciúmes da amiga gostosa. De se portar dignamente, elegantemente, graciosamente. De não enlouquecer nunca – e se você aceita um conselho, toda mulher precisa enlouquecer de vez em quando, ou acaba por enlouquecer de vez.
Se cada homem no mundo pudesse ouvir a minha voz, o único conselho que eu daria é: deixe-nos enlouquecer quando quisermos. Porque não há amor sem uma dose de loucura. Porque equilíbrio absoluto numa relação jamais foi um bom sinal. E toda a mulher tranquila e que nunca te interroga sobre o teu atraso pode não ser tão equilibrada assim: ela pode, simplesmente, não te amar.
A intensidade é parte de cada passo nosso. A insensatez eventual nos é necessária e característica. E se não lhe tivermos um pouco de loucura, certamente não lhe temos sequer um pouco de amor.
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