Excelentes notícias!! A pílula contra a sida chega a Portugal este ano!

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Direção-Geral da Saúde prepara projeto-piloto na zona de Lisboa, envolvendo médicos de família e organizações da sociedade civil. Em França, em três meses, já há 400 pessoas a fazer a medicação que reduz o risco de infecção entre 95% a 100%. Em Portugal já há quem tenha começado a encomendar a medicação pela internet. Peritos alertam para riscos mas percebem a urgência: pela primeira há uma alternativa eficaz ao preservativo

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Um comprimido por dia, todos os dias do mês. Se não houver falhas, a hipótese de contrair o vírus da sida é praticamente zero. A chamada profilaxia pré-exposição do VIH (PrEP) chega oficialmente a Portugal este ano mas já há quem compre a medicação pela internet. Que revolução é esta? António Diniz, diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA da Direção-Geral da Saúde, admite que as parecenças com a pílula contracetiva são muitas, quer na responsabilidade que é preciso ter na toma mas também por existirem efeitos a longo prazo. E, tal como há 60 anos as mulheres que começaram a tomar a pílula para viverem como queriam a sua sexualidade foram discriminadas, existe o risco de aquilo que pode ser uma oportunidade para acabar com a epidemia do VIH esbarre no preconceito.

“Há oportunidades e alturas em que as pessoas não podem continuar a pensar como antigamente”, afirmou o médico num encontro com jornalistas promovido pela Abraço, no qual fez um balanço sobre o acesso à PrEP na Europa e revelou os planos para começar a disponibilizar a medicação, mas também os desafios que enfrenta.

Um novo uso O caso da pílula do VIH é desde já singular. Não se trata de uma medicação nova mas de uma combinação de duas substâncias antirretrovirais usadas no tratamento da infeção por VIH desde 2004, o tenofovir e emtricitabina (nome comercial Truvada). A ideia de que poderia ser usada com outra finalidade, antes mesmo de as pessoas serem expostas ao vírus, tem pouco mais de cinco anos.

Em 2010, o “The New England Journal of Medicine” publicou os resultados de um primeiro estudo que demonstrou que a toma preventiva  reduzia o contágio e o aparecimento de novos casos, por se limitar a corrente de transmissão.

Desde então os resultados tornaram-se cada vez mais robustos. Hoje os médicos estão convictos de que a toma contínua previne a infeção praticamente a 100% e estão também em curso ensaios sobre a eficácia de um regime “on-demand”, em que se toma um comprimido duas a 24 horas antes de ter relações sexuais e depois faz um reforço às 24 e às 48 horas. Mais recentemente novos dados vieram sugerir que, no caso de homens que têm sexo com homens, tomar esta medicação é mais eficaz do que usar apenas preservativo, dado que falhas na utilização não garantem uma proteção a 100%.

Pressão aumenta Os EUA deram o pontapé de saída e aprovaram a profilaxia pré-exposição em 2012. No último ano, a pressão internacional, em particular na comunidade gay, subiu de tom. No final do ano passado, os resultados do acompanhamento de 657 pessoas a fazer PrEP num centro médico de São Francisco revelou que em três anos de pílula, nenhum dos utilizadores, 99% homens que têm relações com homens, foi infetado. As boas notícias fizeram disparar a procura. Em São Francisco o número de utilizadores de PrEP aumentou 332% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período no ano passado. Há 1761 pessoas a utilizar a pílula do VIH de forma regular e os dados mais recentes mostram já uma redução de infeções.

Na Europa tem sido tudo um pouco mais lento, até por que só este ano a farmacêutica que vende o Truvada submeteu para a aprovação da Agência Europeia do Medicamento (EMA) o alargamento das indicações da medicação além do tratamento do VIH/Sida. No pedido da farmacêutica Gilead, que deu entrada em Fevereiro, refere-se que está emcausa a toma diária de um comprimido “em combinação com práticas de sexo seguro” para reduzir o risco de infeção em adultos não infetados e de alto risco.

França foi, até agora, o único país europeu que optou por não esperar mais: a ministra da Saúde emitiu uma autorização provisória enquanto se aguarda a decisão da EMA e, em três meses, já há 400 pessoas a fazer a medicação. Outros países como o Reino, Holanda e Bélgica iniciaram projetos de demonstração, como o que Portugal pretende lançar até ao final do ano, revelou António Diniz, que participou na semana passada numa reunião internacional sobre PrEP.

Para já, todos os países optaram por limitar o uso aos grupos de população onde a incidência de VIH é maior e por isso há maior risco de exposição. É o caso dos homens que têm sexo com homens ou trabalhadores do sexo.
O projeto-piloto em Portugal ainda está a ser estruturado mas o responsável admite que faz sentido seguir a prática internacional antes de pensar num eventual alargamento a toda a população. Os motivos são vários: a medicação não é isenta de riscos e está ligada por exemplo a sequelas ao nível da função renal, exemplifica, sendo por isso de usar nos grupos em que se espera haver maiores ganhos.

Por outro lado, os custos são grandes: atualmente uma embalagem de Truvada para um mês está à venda em Portugal por 418 euros. Mesmo que os hospitais obtenham descontos ao comprar este medicamento em quantidade, o custo é bastante superior ao de uma embalagem de pílula contracetiva que o Estado adquira por 15 euros mês para disponibilizar de forma gratuita. “O preço é uma preocupação. Vai de ter haver muita pressão para conseguir negociar um valor mais baixo e garantir o acesso a título preventivo. Neste momento há condições para avançar com um projeto-piloto mas generalizar a toda a população vai ser difícil”, diz António Diniz.
Mas aqui há outra boa notícia: para o ano o medicamento da Gilead perde a patente, o que significa que a entrada de genéricos no mercado possibilitará um corte de 50% nos preços. Diniz admite que, a dispensar esta medicação, a proposta será sempre de comparticipação a 100% pelo Estado, como se faz noutras vertentes da prevenção do VIH/sida como a distribuição gratuita do preservativa. A decisão, em última instância, é política.

O preservativo não chega O responsável antevê que a implementação vá depender da discussão que se crie em torno da nova medicação e de como tudo é integrado em temos de políticas de saúde. E um princípio poderá parecer provocador: “Trinta anos depois temos de admitir que o preservativo não funcionou e evoluiu muito pouco. É o meio mais eficaz que temos mas para muitas pessoas não é suficiente”, assume o responsável.
Como aliás mostram os números do VIH, que revelam que a infeção tem continuado a aumentar sobretudo nos jovens e homens que têm sexo com homens.

Para os especialistas, a urgência de começar desde já a ponderar a distribuição da PrEP em Portugal, vê-se noutros indicadores como o número de pessoas que vão às urgências dos hospitais pedir a medicação depois de uma relação sexual não protegida.

Bárbara Flor de Lima, médica no Hospital Curry Cabral, dá conta de pelo menos um pedido por dia da chamada profilaxia pós-exposição e pelo menos 30 a 50 pessoas por mês.

A especialista admite que se a PrEP não fosse tão cara nem tivesse riscos, poder-se-ia pensar num alargamento a toda a população, mas por agora exclui por completo essa hipótese. “Vamos ter de selecionar os utilizadores”, defendeu a médica no encontro da Abraço.

Uso de drogas e álcool e historial sexual poderão ser alguns fatores de exclusão, admite, em linha com o que se faz noutros países. Isto porque a falha na medicação num contexto de sexo desprotegido poder, em última instância, levar a ainda mais casos de VIH e ao aparecimento de resistências.

O reconhecimento de que há pessoas a comprar a medicação é outro motivo de preocupação que leva os peritos a querer agilizar o processo. “Não existe um mercado negro mas não podemos chegar aí”, assume António Diniz, reconhecendo de que a noção para algumas pessoas de que finalmente podem viver a sua sexualidade com menos constrangimentos é algo a respeitar. Mas há avisos importantes a quem já está a tomar estes medicamentos: encomendando pela internet existem riscos de contrafação e, mais, de não haver o correto acompanhamento. As orientações internacionais sugerem que deve fazer análises antes de começar a medicação e uma vigilância a cada três meses.

As barreiras O ceticismo da população  mas também dos médicos em torno da medicação e os juízos em torno dos comportamentos sexuais são vistos como barreiras, mas há mais a ter em conta. E se o recurso a esta medicação levar a uma redução do uso de preservativo e aumentar a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis? E se no futuro o vírus da sida adquirir resistência e a população estiver menos preocupada com comportamentos de risco, a epidemia não poderá ganhar novas proporções? Apesar do entusiasmo, os especialistas optam por mostrar-se cautelosos. “Por isso é que tem de haver uma integração desta estratégia na educação para a saúde sexual e adaptar as mensagens de prevenção”, diz António Diniz.
Em Portugal, o arranque do projeto-piloto levanta desde já outros motivos de reflexão.

Nos EUA a distribuição começou a ser feita em farmácias comunitárias e nos últimos meses surgiram plataformas online e aplicações para telemóvel onde é possível comprar a PREC, tendo apenas de apresentar os resultados de análises que confirmem que não se está infectado com VIH. Em França, o Ministério da Saúde optou pelo seguimento em consultas de especialidade.

Diniz admite que, no SNS, o lugar privilegiado para gerir a nova medicação seriam os centros de saúde, já que se trata do aconselhamento de pessoas saudáveis, mas a motivação dos serviços e a adesão dos interessados a consultas formais são uma preocupação. Além do trabalho com médicos de família, uma hipótese é envolver os Centros de Aconselhamento e Deteção Precoce do VIH (CAD) onde hoje se fazem testes rápidos, e também as organizações comunitárias que trabalham na prevenção do VIH/Sida e chegam a pessoas que procuram menos os serviços de saúde, como o CheckpointLX, um dos centros de rastreio do  GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos em Lisboa. Certo, para, já é que o teste-piloto será na região de Lisboa, onde continua a concentrar-se o maior número de infecções. Quatro em cada dez novos casos diagnosticados em 2014 foram registados na área metropolitana de Lisboa, com os concelhos de Lisboa, Sintra e Amadora a liderar as estatísticas.

Fonte:ionline

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